O alerta das ondas (PE)

Estudo sobre erosão costeira aponta preocupação com aumento da altura das ondulações no estado

A erosão costeira é velha conhecida dos pernambucanos. Os quatro municípios que compõem o núcleo central metropolitano (Recife, Olinda, Jaboatão e Paulista) concentram quase 60% da densidade populacional do litoral do estado e, por isso mesmo, são os mais vulneráveis. E o que já era ruim pode ainda piorar. Além da elevação do nível do mar, há outro fenômeno que amplia o poder de destruição da costa: a altura das ondas. E elas estão mais altas a cada ano.

Especialistas de todo o mundo estão constatando um aumento gradual na altura das ondas, sobretudo no Hemisfério Sul. No litoral pernambucano os dados estão sendo acompanhados e há projeções de cenários da amplitude de degradação, que levam em conta a altura das ondas nos próximos 10, 20 e 30 anos, combinada com a elevação do nível do mar. O resultado está no Atlas de vulnerabilidade à erosão costeira e mudanças climáticas, concluído em 2015 e publicado neste ano pela UFPE, em parceria com a Secretaria de Sustentabilidade e Meio Ambiente de Pernambuco.

A equipe de oceanógrafos da UFPE, liderada pelo professor Pedro Pereira, fez uma análise dos dados a partir do que foi coletado em campo em 2014. Os 187 km de litoral apresentam três níveis de vulnerabilidade: alta, média e baixa.

A ideia não é trazer pânico, mas alertar sobre as medidas protetivas para melhorar a condição da costa antes de ser surpreendido pela força das águas e dos ventos, responsáveis pela altura das ondas. O dever de casa, que passa também pela melhoria das condições climáticas, inclui políticas de ocupação do solo, como o respeito à linha de praia. 

A última marcação era de 1831 com dados da Marinha. O traçado atual determina limite mínimo de 33 metros de faixa de areia livre na orla dos 13 municípios litorâneos. O decreto estadual 42.010/2015 instituiu a linha de costa, mas nos municípios onde a faixa de areia já é inexistente, a solução é a engorda da praia. E é bom que ela ocorra antes da chegada das maiores ondas que ainda estão por vir.

Uma luta para conter o mar

O barulho da arrebentação das ondas no muro de pedras é um alerta de que a estrutura é a última barreira de proteção onde a erosão marinha já destruiu toda a faixa de areia. E é um muro que separa o oceano do bar de Erasmo e Djaci, na Praia de Pau Amarelo, litoral de Paulista. Onde hoje só há água já foi uma faixa de areia onde era possível caminhar. Mas a situação poderia ser pior caso o município não tivesse se antecipado e aplicado a técnica internacional do bagwall - a colocação de bolsas de concreto de até dois metros de altura para criar uma barreira artificial em formato de arquibancadas, bloqueando as ondas - ao longo de 3,5 quilômetros de praias.

A ocupação indevida da região costeira aumenta o grau de vulnerabilidade da costa pernambucana, mas há ainda outros fatores, a partir das mudanças climáticas, que preocupam: o aumento do nível do mar e o aumento da altura das ondas.

“Há uma preocupação grande em relação à elevação do nível do mar, mas o estrago provocado pela onda é muito maior do que a inundação”, revelou o oceanógrafo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Pedro Pereira, que participou do estudo do Atlas da Vulnerabilidade à erosão costeira e mudanças climáticas do estado.

O estudo mostra uma tendência do aumento das ondas no estado baseado em dados de 1950 a 2015. A altura média das ondas no litoral do estado é de 1,5 metro, mas as previsões para os próximos 10, 20 e 30 anos apontam projeções de ondas de 1,65 m, 1,80 m e 2,25 m de altura, nas respectivas décadas. Os dados detalham as consequências para o litoral com projeções de cenários, que também levam em conta a elevação do nivel do mar de 25 cm (10 anos), 50 cm (20 anos) e um metro (30 anos), o que resultará em marés de 2,95 m, 3,2 m e 3,7 m. Atualmente a média da maré alta é de 2,7 m.

E que tipo de impacto esses cenários futuros podem trazer para o litoral do estado? Atualmente, dos 187 km de litoral, 38% apresentam baixa vulnerabilidade, 49% têm uma vulnerabilidade moderada e 13% têm alta vulnerabilidade. Com o aumento de 15 cm das ondas e de 25 cm do nível do mar, em dez anos, a alta vulnerabilidade aumenta de 13% para 16%. Em duas décadas, com a previsão de aumento das ondas em 30 cm e do nível do mar em 50 cm, a alta vulnerabilidade passa de 13% para 25%, um quarto do litoral.

Em 30 anos, as ondas podem vir a subir até 75 cm, segundo o Atlas, atingindo uma altura de 2,25 metros. Nessa proporção, o nível do mar sobe um metro e cerca de 34% do litoral fica em alta vulnerabilidade. “O Litoral Sul, onde muitas praias ainda são pouco adensadas, ainda guarda o maior percentual de baixa vulnerabilidade. Já o Litoral Norte, onde fica o município de Goiana, é bastante adensado e de alta taxa de vulnerabilidade. A situação pior, no entanto, fica no núcleo metropolitano, onde 42% dos 12 km já apresentam alta taxa de vulnerabilidade”, explicou Andréa Olinto, da Secretaria de Sustentabilidade e Meio Ambiente.

Litoral Norte herdou erosão

Os dados do Atlas divulgados pelo estado também trouxeram um novo olhar para o Litoral Norte, que apresenta uma vulnerabilidade mais alta em relação ao Sul. Ponta de Pedras, em Goiana, é reflexo do que acontece ao longo do litoral. No trecho onde a urbanização avançou sobre a faixa de areia, a perda foi de 30 metros. Já na área norte da praia, onde as construções são mais afastadas, bancos de dunas e vegetação se formaram ao longo dos anos e o areal se estendeu por mais de 100 m.“As obras no Porto do Recife e os espigões de Olinda produziram efeito cascata e transferiram a erosão para o norte”, afirmou a oceanóloga Karoline Martins.

Com aumento do nível do mar, a estimativa é que as ondas alcancem a costa com mais de dois metros em 30 anos. “Pernambuco usará o estudo como principal norteador da política de gerenciamento costeiro. A ideia é planejar as ações em função dos cenários de mudanças para evitar erros do passado”, revelou o secretário da pasta, Sérgio Xavier.

O estado bancou os projetos de recuperação dos municípios do núcleo metropolitano, mas por enquanto não há projetos para outros pontos do litoral do estado. “A ideia é manter o mesmo modelo para o restante do litoral. O estado elabora o projeto e os municípios fazem a captação dos recursos”, afirmou Sérgio Xavier.

Pernambuco é um dos estados onde a produção científica em relação às mudanças climáticas tem mais avançado. No caso do monitoramento do nível do mar e das ondas, a ideia é adquirir mais equipamentos. “Nós vamos precisar de ondógrafos, marégrafos e quadriciclos para percorrer e monitorar o litoral. Esses estudos precisam ser atualizados a cada cinco anos, no mínimo”, afirmou o oceanógrafo e professor da UFPE Pedro Pereira. “O estado tem todo o interesse em manter os dados atualizados e vamos adquirir os equipamentos que estiverem dentro do orçamento”, enfatizou o secretário Sérgio Xavier.

Fonte: Diário de Pernambuco

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