Gogó da Ema: O coqueiro-símbolo de Maceió (AL)


O coqueiro torto, que virou símbolo de Maceió por décadas, era apenas mais um coqueiro entre as centenas que existiam na Ponta Verde dos anos de 1930, quando o bairro ainda era uma região de sítios e suas praias eram notícias somente quando o assunto era a possibilidade de por lá se encontrar petróleo.

Nessa época, a região era dominada por sítios, e o Gogó da Ema ficava na propriedade bem guardada de Francisco Venâncio Barbosa, mais conhecido como Chico Zu, como descreveu Felix Lima Júnior no seu livro Maceió de Outrora. Entretanto, o coqueiro famoso foi plantado bem antes, ainda no final do século XIX, por dona Constança Araújo, como registram alguns historiadores.

Ninguém sabe quando a sua deformidade passou a ser admirada ou quem o batizou, mas sabe-se que começou a ficar famoso quando o avanço do mar na Ponta Verde derrubou a cerca e vários coqueiros do Sítio do Chico Zu, e o Gogó da Ema ficou acessível, a poucos metros da praia, podendo ser observado sem precisar invadir o lote e enfrentar os cachorros.

A partir daí, rapidamente sua imagem foi propagada mundo afora por milhares de fotos. Muitos guardam, ainda, as imagens ou cartões-postais colorizados produzidos por estúdios alagoanos como o de Arnaldo Goulart. A imagem do coqueiro era tão forte que muitas empresas alagoanas da época a utilizavam como marca. 

As lojas do centro de Maceió também não poupavam o coqueiro, usando réplicas como ornamentação e suporte para os seus produtos nas vitrines. A planta, com seu tronco retorcido, era modelo obrigatório para os pintores locais e para os alunos das poucas escolas de arte da capital. Os poetas e músicos também não economizavam inspiração para cantá-lo.

Se no começo a sua fama se deu por seu formato inusitado, aos poucos o Gogó da Ema foi sendo associado a momentos românticos, contando para isso com o auxílio luxuoso da bela praia da Ponta Verde e das noites enluaradas que permitiam os furtivos encontros de casais de enamorados.

Com o crescimento de Maceió, os bairros de Pajuçara e Ponta Verde passaram a ser área de moradia e suas praias cada vez mais visitadas, ajudando a ampliar a divulgação do Gogó da Ema, que servia como uma referência para os passeios e encontros das famílias, sempre gravados em fotos.

A QUEDA

Sem respeitar a importância que o coqueiro tinha para a cidade, o mar, que antes o tinha promovido aproximando-o da praia, agora agia para derrubá-lo. Aos primeiros ataques da maré alta, as autoridades improvisaram barreira de troncos, aterrada com arrecifes e cimento. Era uma solução apontada como ineficiente para impedir a ação agressiva das ondas do mar. Jornais da época denunciavam que a obra não conseguiria manter o coqueiro de pé, mas nada de novo foi feito. 

O engenheiro Vinicius de Maia Nobre, em entrevista ao G1, revelou que o Gogó da Ema já estava em idade adulta quando caiu, mas que as obras do Cais de Jaraguá foram responsáveis por acelerarem a sua queda em 1955. 

“As águas da enseada da Pajuçara passavam, através de um canal próximo ao Porto, para a enseada de Jaraguá, onde era o ancoradouro dos navios. O projeto era transpor essa região, onde a corrente passava, através de uma ponte que não foi construída. Foi vedada a passagem dessa corrente. Por isso ela hoje, bate lá e volta, e acentuou o avanço do mar na região do Gogó da Ema”.

Houve ainda quem culpasse a extração desenfreada de arrecifes para a produção de cal como a causa do avanço do mar na região, ou mesmo a perfuração dos poços para a pesquisa da existência de petróleo.

O jornalista Carivaldo Brandão assim descreveu a queda do Gogó da Ema: “Naquele inverno, quando ele, não suportando mais a surda e desigual luta que há tempos vinha travando contra o todo poderoso oceano, seu vizinho, por questão de terra, acabou tombando”. Os registros indicam que no dia 27 de julho de 1955, às 14:20 horas, lentamente, onda após onda, o coqueiro foi cedendo e vagarosamente caiu.

Dois dias depois foi montada uma operação para reerguê-lo. Coordenaram a iniciativa o coronel Mário de Carvalho Lima, comandante da PM (pai do Carlito Lima), o professor Théo Brandão e o jornalista Carivaldo Brandão. Soldados do Corpo de Bombeiros foram mobilizados, mas, mesmo recolocado de pé com a ajuda dos engenheiros agrônomos Jesus Gerardo Parentes Fortes e Olavo Machado, o Gogó da Ema não conseguiu se recuperar.

Carivaldo Brandão, que acompanhou de perto a tragédia, revela que a recuperação não aconteceu por que, logo após a queda, “mãos insensíveis e ignorantes se apresentaram em flagelá-lo mais ainda, a golpes de facão, mutilando sua preciosa folhagem”.

A ideia de reerguer o Gogó da Ema partiu da mãe do fotógrafo Virgilito Cabral, do Jornal de Alagoas. Ele comentou com Carivaldo Brandão sobre a proposta. Imediatamente, o experiente jornalista acionou o chefe da Defesa Sanitária Vegetal, agrônomo Jesus Gerardo Parente Fortes, e o professor Théo Brandão, que, por sua vez, procurou o comandante da PM, coronel Mário Lima.

A operação durou três dias e contou com a ajuda de um carro guindaste da Companhia Força e Luz. Após 90 dias de tratamento, algumas folhagens reapareceram, mas o mar continuava a solapar a base do coqueiro, derrubando-o definitivamente.

Por sua importância para Maceió, sendo seu símbolo mais conhecido por décadas, o Gogó da Ema recebeu uma homenagem em forma de monumento na praça batizada com o seu nome em um local bem próximo onde ele viveu seus dias de glória.

Fontes: - Texto “Gogó da Ema” de Luís Veras Filho, publicado no Caderno “Maceió Histórias -Costumes”, da Funted. - Texto “Paixão e morte de um coqueiro” de Carivaldo Brandão, publicado no livro “Jornal de Alagoas, 80 anos”, de 1988.- Livro Maceió de Outrora, de Félix Lima Júnior.

EDBERTO TICIANELLI jornalista
extralagoas.com.br

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