Evento propõe criação de Instituto para previsão de climas extremos

Prever a ocorrência de uma seca, estiagem, ou, no sentido inverso, uma enchente e chuvas torrenciais – todos os eventos climáticos que provocam sérios impactos na economia e na sociedade – ainda é um ponto nevrálgico para a ciência. Reunir estudiosos para superar esse desafio e conseguir antever a ocorrência dos eventos e as suas consequências é a proposta mais palatável da academia que se debruça sob as mudanças climáticas. O futuro do clima nordestino é o cerne das discussões de especialistas e estudiosos do mundo inteiro reunidos no Simpósio Internacional sobre Mudanças Climáticas, Impactos e Vulnerabilidades, que está acontecendo em Natal até o dia 1º de junho.

Cerca de 120 pesquisadores brasileiros, 30 estrangeiros e 100 estudantes de áreas afins e correlatas participam do Simpósio, que visa trazer à tona a importância do tema e constituir grupos de pesquisa que irão tratar de problemas gerados pelas mudanças climáticas e seus reflexos na economia, em particular no turismo, agricultura e saúde pública.

Dentre eles, estão a erosão costeira causada pelo avanço do mar – apesar dos registros mostrarem que o progresso marítimo é pouco perceptível, seus efeitos nas marés e ondas são acentuados; a elevação da temperatura da superfície do mar, sobre a qual não há consenso se é resultado da ação humana ou não, e seus efeitos.

Cerca de 120 pesquisadores brasileiros, 30 estrangeiros e 100 estudantes de áreas afins participam do evento em Natal (Foto: Frankie Marcone)

A perspectiva de aumento de temperatura mais otimista aponta que serão acrescidos 1 a 2 graus dentro de 50 anos – entretanto, os estudos mais pessimistas revelam que pode haver um aumento de até 5 graus no mesmo período, o que produziria resultados catastróficos, com agravamento de problemas como o aumento do nível do mar, secas e a desertificação do semi-árido.

Outra implicação preocupante no Nordeste é a intensidade da radiação solar, considerada elevada principalmente no horário do meio-dia, e os seus prejuízos para a saúde, como a ocorrência de câncer de pele, problemas de visão e a diminuição das defesas naturais do organismo.

Deste evento, emerge a ideia mais concreta e promissora para viabilizar a previsão climática de extremos da natureza: a instalação do Instituto de Ciências Climáticas, voltado para o estudo de eventos climáticos extremos, que irá compilar os estudos e os pesquisadores nacionais e internacionais, numa cooperação entre centros de pesquisa e universidades de todo o mundo.
De antemão, já estariam envolvidas instituições de alto gabarito acadêmico, como a Universidade de São Paulo (USP), e universidades do Havaí (nos Estados Unidos), Lisboa e Évora (ambas em Portugal).

Um consenso entre os especialistas presentes no Simpósio é que o Instituto deverá ser sediado em Natal, cidade considerada um verdadeiro laboratório natural para estudos.

“Estamos perto da linha do Equador, do oceano e do semi-árido, e na quina do Brasil. Reunimos todas as condições naturais mais propícias para previsões climáticas”, ressalta o coordenador do Simpósio, Francisco Alexandre da Costa, que é físico, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas da UFRN.

No âmbito do Instituto, serão aprimorados os modelos de previsão, e as ideias serão incorporadas e adaptadas aos modelos atuais. Isso ajudaria a sanar as falhas existentes nos modelos climáticos em uso.

“Os modelos climáticos falham. E principalmente na detecção de extremos. Quando se trabalha na média, na normalidade, é menos complexo. Mas quando se parte para extremos, esse é um desafio para as ciências climáticas”, pontua o coordenador científico do Simpósio, Paulo Lúcio.

A necessidade de se estabelecer espaços para pesquisas e estudos nesse âmbito é mais do que urgente. Um forte exemplo dessa emergência é a seca que vem castigando várias cidades do Nordeste, com sérias implicações na agropecuária, com ecos em todos os aspectos da economia nos estados atingidos.

“No Simpósio, vamos discutir o que estudar e como usar o conhecimento gerado. Isto nos ajudará a compreender que mudanças extremas em clima e tempo produzem um forte impacto na sociedade em que vivemos”, detalha Francisco Alexandre da Costa.

A concepção do Instituto será proposta à reitoria da UFRN, e num segundo momento, serão formalizadas as parcerias acadêmicas. Antes, segundo o coordenador do Simpósio, é fundamental estabelecer grupos de pesquisas, e criadas condições para que eles atuem, com equipamentos tecnológicos de monitoramento ambiental de ponta.

“O Rio Grande do Norte não tem um radar meteorológico moderno nem recursos computacionais avançados, que são imprescindíveis para as pesquisas”, lamenta o especialista.
 
Fonte: http://www.riograndedonorte.net
Portal JH, O Jornal de Hoje, Natal/RN

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