Mar avança e ameaça população de Redonda (CE)

Estrada que margeia a praia foi destruída pela força das águas do mar
Estudo da UFC aponta que falhas tectônicas estariam modificando o fundo do mare influenciando marés

Icapuí O mar segue avançando no litoral do Ceará. E o problema, que já é comum em algumas comunidades de Icapuí, no Litoral Leste, avança para outras áreas. O mar, agora, ameaça a moradores da vila de Redonda. Neste período chuvoso, a água do céu se confunde com a água do mar. Unem forças e provocam erosões. O primeiro sinal foi uma fenda aberta na estrada que margeia a praia.

Não é apenas o aquecimento global e a ocupação irregular que explicam o dilema dos povos do mar neste Município. Estudo da Universidade Federal do Ceará (UFC) revela que a acomodação de falhas tectônicas (que causam os tremores em Sobral) estaria modificando o fundo do mar e repercutindo na dinâmica das marés em Icapuí.

A conclusão é de que o mar poderá engolir mais território nos próximos anos. A saída é combater o avanço do homem nessas áreas em onde quem manda é o avanço do mar.

Nos primeiros meses do ano, a maré é mais alta e o problema se agrava. A estrada que dá acesso à Rua de Cima e a várias pousadas está ruindo. Uma fenda se abriu e não permite a passagem de carros. O medo dos moradores é um dia não passar nada.

"A gente vem enfrentando esse problema há algum tempo, geralmente no início do ano, no período de chuvas e de maré alta. Uma vez foi construído um calçadão, mas a maré levou", relembra Maurício Valente, da Associação Monsenhor Diomedes, que reúne os moradores de Redonda. Depois que o mar levou o calçadão, outro foi construído, só que menor, que preserva apenas a "Boca do Povo", quiosque onde pescadores se concentram todos os dias.

Improviso

A saída encontrada pelos moradores é colocar sacos de areia e pedras. É o que tem feito também os moradores de Parajuru, no Município de Beberibe. Esta também foi a primeira grande alternativa dos moradores de Barreiras e Barrinha, em Icapuí, mas que "não deu vença" e o mar avançou mesmo assim.

Estudos de universidades e institutos de pesquisa, a pedido do Ministério do Meio Ambiente, vêm revelando que o aquecimento global e a intervenção humana indiscriminada farão o nível do mar aumentar e cerca de 42 milhões de brasileiros terão que se deslocar até o final deste século. Mas isso só explica em parte o desaparecimento de praias no litoral cearense.

De acordo com Alexandre Medeiros, geólogo do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da Universidade Federal do Ceará (UFC), há aspectos geológicos, dinâmica dos ventos e a estrutura da bacia sedimentar na região de Icapuí a interferir na dinâmica das marés. Alexandre é autor do estudo "Controle tectônico na morfodinâmica costeira de Icapuí".

A pesquisa aponta que ainda há movimentação de placas tectônicas no processo de distanciamento entre os continentes americanos e africanos. Isso causa desde os tremores em Sobral a mudanças na estrutura da bacia sedimentar em Icapuí.

Segundo Alexandre Medeiros, há evidências de movimentação neotectônica, o que geraria um provável arqueamento de blocos de rocha pressionados por falhas geológicas das bordas da Bacia potiguar. O efeito prático disso é que, no fundo do mar, estariam se desenvolvendo batentes com alguns metros de desnível, o que estaria afetando a dispersão de sedimentos.

Entre dezembro e fevereiro, o Ceará sofre influência do Swell, formação de grandes ondas em grandes distâncias.

Elas chegam crescidas no litoral e, quando se somam às marés nos períodos de lua cheia e lua nova, vêm em forma de ressaca. É o que pode ser visto na Beira-Mar, em Fortaleza, como no litoral de Icapuí. A saída apontada por especialistas é evitar a ocupação em faixa de praia a até 100 metros da linha de maré mais alta.

Contenção

Em relação aos lugares onde há tradicional ocupação de moradores, nas vilas dos povos do mar, a sugestão para conter o avanço do mar é tomar medidas que já estão sendo realizadas na nas faixas de praia em Icaraí, no Município de Caucaia, como em Barrinha, em Icapuí: o "bagwall".

O engenheiro civil Marco Lyra, especialista em obras costeiras, defende que a melhor atualização de pensamento sobre o avanço do mar é mesmo encontrar meios de recuperar as faixas de praia de forma a entender a dinâmica do mar.

O bagwall atua como dissipador da energia das ondas e, como o tempo, age na recuperação de faixas de praia e preservação de determinado ambiente costeiro. O custo para esse tipo de operação é milionário (a partir de R$ 5 milhões para cada 1000 metros de ´escadaria´).


Fonte: Diário do Nordeste | Texto e Foto Melquíades Júnior

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